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Frida Kahlo: o mito pop

Por Cícera Dias

            A pintora mexicana Frida Kahlo: o mito pop da atualidade tem conquistado uma vasta multidão de admiradores. Sua pintura peculiar tem sido muito apreciada e consumida nos últimos anos, pois além de ser um dos maiores nomes das artes plásticas do século XX, a pintora tem sua imagem fortemente explorada pela mídia.
            Muito mais que uma mulher, a artista é o símbolo das lutas femininas e sociais, mas a romantização de suas tragédias criada pela indústria faz de Frida Kahlo o baluarte lucrativo do consumo intelectual.

Frida Kahlo na capa da revista Vogue
Capa da revista Vogue


            Magdalena Carmen Frieda Kahlo y Calderón nasceu em Coyoacán, México, em 06 de julho de 1907. Iniciou na pintura após sofrer um terrível acidente que poderia tê-la matado. Esposa do pintor muralista Diego Rivera, Frida viveu um relacionamento conturbado regrado de paixões e traições. Teve vários amantes, entre homens e mulheres, embora fosse Rivera sua grande paixão. Devido o acidente a pintora não teve filhos, mas deixou o seu legado expresso em suas belas pinturas.  
            A irreverência de Frida Kahlo vai muita além das suas representações plásticas. A pintora vestia-se com trajes da cultura popular e tinha uma estética feminina particular. Possuía um espírito revolucionário, de grande apego as ideologias marxistas e ao rompimento dos padrões burgueses. Esteve a frente de comitês e organizou eventos para a ampliação do aprendizado sobre o folclore e as artes mexicanas. Frida era comunista e suas reflexões e pintura expressam seu grito contra a opressão. 
          A autenticidade de seu caráter moderno e genuíno se expressa em suas cores. Kahlo fez de seu próprio corpo bem como de seus sentimentos e anseios uma obra de arte. Além da originalidade de sua obra, a pintura de Frida é emotiva, impactante e conceitual. 
 
Frida na fronteira entre o México e os Estados Unidos
Autorretrato na fronteira entre o México e os Estados Unidos, 1932.
          
        Olhando mais atentamente para a vida de Frida Kahlo é possível reconhecer o quão atual e vendável é sua história. E é justamente por isso que os mais variados setores da indústria e também a mídia tem feito da imagem desta mulher um produto que necessita ser consumido.  
         O consumo da vida e obra da artista não é um problema. Pelo contrário, é necessário que sua pintura e pensamento sejam apreciados e conhecidos por todos. Mas será que a forma como sua imagem tem chegado para a maioria das pessoas tem criado uma Frida moldada nos rótulos do marketing de venda? Não haveria desse modo um esvaziamento de suas aspirações políticas, culturais e revolucionárias para torná-la consumível? 
 
Pintura de Fria Kahlo - o marxismo trará saúde aos doentes
O marxismo trará saúde aos doentes, 1954.
      
        Existe muito poder na imagem de Frida kahlo, mas será que essa imagem icônica corresponde aos ideais da pintora politizada e "transgressora"? Quantas são as mulheres que sofrem com a impossibilidade da maternidade? Quantas não têm uma vida afetiva conturbada ou alguma ferida sentimental? Quantas não buscam por sua identidade ou lutam por igualdade?  
         Pergunto, pois, se faz necessário que se perceba que Frida foi construída nos últimos anos como um item de venda plenamente moldado ao consumo, visto que as tragédias vividas e sentidas pela artista sensibiliza a todos.  
     Além disso, se faz necessário que a memória da pintora não seja associada a pensamentos rasos e superficiais, ou que se sobreponha uma história idealizada à sua obra. Precisamos resgatar e amplificar sua voz ao invés de só disseminar sua imagem em camisetas e bolsas.
 
Pintura de Frida Kahlo - Moisés o núcleo solar
Moisés o núcleo solar, 1945.

           Não é de hoje que tenho percebido essa midiatização da vida e obra da Frida Kahlo. Ao pesquisar sobre esse assunto fiquei ainda mais inquieta ao saber que existe uma "fridomania" que flutua no desejo efêmero de um consumo modista. Desse modo a obra da artista sai de foco e passamos a enxergar somente sua vida limitando-se as suas dores e paixões. 
           Sem dúvida não se pode negar a autobiografia expressa nas pinturas de Frida, mas a sua arte não se limita ao simples relato de sua vida, e esta mercantilização anula o potencial crítico que traz a sua obra. 
           A artista está presente em inúmeros produtos e em várias plataformas midiáticas. A arte de Frida Kahlo sai das galerias e passa a integrar o cotidiano de seus consumidores através de produtos materiais diversos, e sua imagem é vendida como souvenir. Muitos artistas e campos diversos da indústria já se inspiraram na artista: a moda, o cinema, o teatro, a literatura, vários ilustradores e artistas plásticos, capas de revistas etc.

Caneca Frida KahloCadeira Frida KahloBolsa Frida Kahlo

 Imagens da internet
 

                  Cantora Beyonce                  Pintura de Cícera Dias                        Livro infantil   
          
              Por ser grande admiradora da obra de Frida, eu mesma, anos atrás, pintei a artista como vocês podem ver na imagem acima e fiz a festa Frida kahlo em comemoração ao primeiro aniversário de minha filha sem me dar conta desse potencial mercantil. E foi justamente a partir de pesquisas na internet sobre a pintora que me deparei com inúmeros produtos que se vestem com suas cores.
           Sem dúvida a pintora inspira não somente artistas, mas toda uma geração de homens e mulheres que lutam por igualdade. A mulher cuja beleza desvincula-se dos padrões de feminilidade, e cuja dor e deficiência transforma-se em arte não é de se esperar menor admiração. 
          Mas será que dentro do cenário político que vivemos a Frida que estampava em seu colete de gesso a foice e o martelo, símbolos do comunismo, é de fato amada? Não seria essa parte de sua história ignorada para fazer dela um produto mais palatável para a sociedade capitalista? 

Frida Kahlo com colete de gesso
Frida com colete de gesso, 1941.
     
            O filme Frida, 2002, dirigido por Julie Taymor, revela essa mitificação da pintora. Apesar da excelente trilha sonora e fotografia da cinebiografia, o filme focaliza no romance tempestuoso de Frida e Diego, como se toda a sua obra fosse compreendida ou justificada pelos seus relacionamentos amorosos. 
           Além da exploração de sua sexualidade o filme não é muito fiel às motivações por trás de sua obra. De certo modo existe muita poética, mas não representa fielmente a realidade do México nem tão pouco a mulher que teve o corpo estilhaçado e mesmo assim participava de passeatas em defesa dos seus ideais e de uma sociedade justa. 
        
Frida o fime
Frida - o filme
             Mas difícil mesmo é saber se o mundo ama o sofrimento ou a arte de Frida. O conjunto de sua obra é indiscutivelmente mais valioso que qualquer imagem atribuída a artista. Qualquer leitura que se faça de Frida Kahlo, será meramente superficial. As muitas Fridas que integraram a personalidade dessa mulher excitante não foram feitas para compreender e sim para provocar. 
              Talvez o reconhecimento que sentimos ao olhar para essa mulher é o que nos aproxime desse desejo de consumir seu brilhantismo e força. A Frida impressa nos produtos  de mercado revela que por trás do mito, ela mesma é a maior das protagonistas.

Se você gostou dessa postagem e assim como eu admira a obra dessa magnífica pintora deixa aqui nos comentários a sua opinião. Talvez você goste de complementar a sua leitura com os artigos:
   
Um forte abraço e até breve!!!!!!
 
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